segunda-feira, 22 de novembro de 2010

jeremias,

Jeremias Ricardo de Lima
[14.06.1917 - 22.11.2010]

soul blues

à noite
sempre
após torradas
biscoitos
sai

estica
um pouco
as canelas

longevo
lento

o olhar
curvo
para baixo

a cidade pequena
silêncio

um lado
outro
talvez pense
:
a vida é tanto

e
cataloga
estrelas

em Embrulho, 2000
..........................

o quadrado branco, futebol

ele não liga mais a tv. a cabeça baixa, os olhos vincados no chão e uma poça de água. nem conta os ladrilhos nem dorme. nem de longe um gole de café uma torrada uma xícara de chá de alfazema ou capim santo. andar a calçada é por onde não pensa. tudo é perigo no corpo. tudo tem risco demais

manter o portão da frente fechado evita que os mosquitos e a chuva entrem pela janela. quando é o dia que a chuva vem? quando é que o amigo mais velho volta?

estas coisas, antes, de algum jeito, deixavam a vida de lado. um instante e outro, tudo muito sozinho. todos os dias não liga mais a tv e repara que ao fazer a barba não vê seu rosto, que as mãos não se movem direito

em Quando todos os acidentes acontecem, 2009

3 comentários:

  1. Olá, Manoel
    compreendo bem esse vazio (passei por ele duas vezes em anos recentes), a certeza do nunca mais, nunca mais...
    A poesia/homenagem, em certa media, memória para sempre presente.
    Forte abraço na poesia
    dalila teles veras

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  2. q bela foto, mané...
    beijos,
    annita.

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