sexta-feira, 10 de maio de 2013

poema,


ninguém

sempre assim. todos os anos, estupidez e fingimento, nessa ordem quase exata e monstruosa. a mesma pergunta enferrujada na boca, nos dentes. sabe onde fica? o pior é que se ela pudesse morreria agora mesmo, toda branca e nua, sobre os meus calcanhares enviesados. remorso algum. morreria bem no meio da minha frase, atravessada bem no meio da frase que elaborei por tanto tempo, por tantas vidas. esta demora. os braços espalmados no chão, o rosto crespo, obsceno e as notas do dinheiro limpo, a pulseira de acrílico colorida, um vestígio de ferro velho na garganta, sabe onde fica? é sempre assim, todos os anos, estupidez e fingimento, a mesma conversa batida e mastigada muitas vezes com o chiclete vencido, os dentes pretos, a boca toda preta. disse que existe um peixe do tipo ferrugem, anisotremus virginicus, e que o peixe se parece com ela. anisotremus virginicus, repete e engasga com o limo preto que escorre do céu da boca. ela também mente. exibe o estojo novo de maquiagem, a pinça com pontinha dourada, se a gente não toma cuidado, mata. não sabe, né? claro, não sabe onde fica nada

Júlia Studart
[um poema antigo, perdido em algum lugar, que reaparece agora junto com uma foto ainda em Lisboa. melhor título, nesse tempo com Fernando Pessoa, impossível]

Um comentário: