terça-feira, 17 de julho de 2012

a luta das imagens,

                 
"Sem de modo algum desmerecer o trabalho dos selecionados (até porque admiro vários deles, além de ser amiga de alguns), não vi muito sentido em submeter um texto à avaliação. Considero a Granta brasileira um projeto equivocado, se não deletério, desde o princípio: trata-se da importação de um modelo de revista, que não leva em consideração as especificidades do nosso sistema literário e que traz consigo, a reboque, todo um modelo de literatura (para simplificar as coisas: o modelo dominante na literatura de língua inglesa) o qual, a médio prazo, pode ter conseqüências devastadoras para a diferença e a diversidade da literatura que praticamos por aqui. Este modelo, como pudemos ver recentemente nas entrevistas já célebres da Luciana Villas-Bôas e do Sergio Machado, já vem produzindo estragos tremendos na relação das editoras com os novos autores. Não é por acaso que a edição em inglês da revista traz o título "The Best of Young Brazilian Novelists", e não "Brazilian Writers": afirma-se, assim, uma suposta primazia do romance (novel) sobre as demais formas e gêneros, mesmo que para isso seja preciso apresentar contos como se fossem capítulos de romances em andamento. Busca-se, com isso, reprimir a experimentação, que considero fundamental em qualquer trabalho artístico, em prol de um padrão comercial de legibilidade e valor. Estou fora."

Veronica Stigger
[declaração na íntegra a uma matéria da Folha de SP, data: 16.07.2012]

e a quem gosta de esticar, a tal matéria:

2 comentários:

  1. Num encontro em Leningrado, que justamente debatia o romance contemporâneo, Roger Caillois radicalmente afirmou: "(...)no nosso mundo nada é desprovido de consequências (...) não é concebível que um romancista não tenha responsabilidades. Mesmo se quisesse recusá-las, teria-as do mesmo modo, já que a sua obstinada abstenção faria escola. Querendo ou não querendo, tudo aquilo que publica é considerado, de alguma forma, como um exemplo. E esta responsabilidade não é apenas literária, já que o romance não é e não poderia ser um gênero exclusivamente literário".
    Além da imposição de um gênero, ainda desejam modular os escritores, ou melhor, "romancistas", dentro de modelos muito bem estabelecidos para elaborarem os seus "romances". Ou seja, uma imposição dentro da outra...
    A cadeia que se cria com isso é perversa...
    abraços, Davi.

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  2. O problema é justamente este, babi, perversão ampliada. E como não há debate, porque não há nível nem sofisticação para isso [e não seria exigir demais, nos parece, que esta sofisticação, por exemplo, partisse do que diz você a partir de Caillois], o que há é apenas uma prática arrivista e beligerante. A Veronica assume um lugar político de absoluta responsabilidade quando diz "estou fora". Alguém precisa dizer isso, porque o nível de recusa anda baixíssimo. E a vida é muito menor que isso, se entende, e sei que sim. Beijo em você.

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