sexta-feira, 4 de novembro de 2011

homem de palavra[s],

Colóquio Internacional
Ruy Belo: Homem de palavra[s]
3 e 4 de novembro de 2011
Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa
*Agora, 4 de novembro, 14:30, Lisboa [12:30, Brasil]:

Foi mentira, sou ninguém: sobrevivência
trecho da conferência apresentada por Manoel Ricardo de Lima

a arte, mesmo a arte mais pessimista, por isso mesmo que não se conforma, é sempre uma proposição de felicidade. E a felicidade não pertence a ninguém não, a nenhuma classe, é de todos.” Janjão, personagem de Mário de Andrade, em O Banquete

Ruy Belo morreu em 1978. Neste mesmo ano publica-se Despeço-me da terra da alegria, seu último livro de poemas. No poema homônimo, escreve que “A vida tem aspectos criminosos”. [BELO, 2000, p. 27] Depois, num longo poema intitulado Fugitivo da catástrofe, empenha a palavra entre o nome e a história para articular a sua tarefa política com a poesia – mudar o tempo como forma primeira e possível para mudar o mundo – desde o primeiro verso: “Eu sou um fugitivo da catástrofe”. [BELO, 2000, p. 35] Isto é uma dimensão do transporte, da transposição. Aqui, é preciso levar em conta o que diz Walter Benjamin: a verdadeira catástrofe é que as coisas permaneçam exatamente como estão. Depois, o que diz Giorgio Agamben quando nos lembra que toda a busca da poesia moderna é orientada em direção a uma região inquieta e inquietante em que não há mais homens nem deuses, mas apenas nos encontramos com os restos de um antigo fetiche: a presença vazia e intangível, a nossa presença vazia, sagrada e miserável, fascinante e terrível. Ruy Belo, me parece, é um poeta da vida moderna em prospecção e defasagem anacrônica, o que trabalha a imagem moderna de uma ficção da origem numa espécie de ‘desregulação regrada’ da metamorfose – a forma por dentro – [e não apenas numa transformação, que indica a passagem de uma forma a outra], inverte essa imagem numa potência de fricção com o real e assim apresenta uma saída por dentro e por fora através da boca escura e a-sombrada do testemunho, uma boca obs-cena [a que nos dá a ver o fora da cena] que interpela o tempo a partir da sua condição de poeta e dos usos de sua língua imprópria. O testemunho, é importante lembrar, se implica com um desejo de não escrever, mas escrevendo, um estado de ânimo queixoso, funesto, mas também bem humorado, alegre, que aponta – o desejo de não escrever escrevendo – a isso que Agamben define para a experiência poética como a experiência de uma desubjetivação integral e sem reservas que afeta todo ato de palavra. Tamara Kamenszain, crítica e poeta argentina, amplia o problema pensando em Alejandra Pizarnik, uma poeta muito diferente de Ruy Belo e, mesmo de longe, sua contemporânea, e também por isso mesmo muito interessante se começamos a pensar numa recepção da poesia de Ruy Belo na América do Sul. Diz ela:

Quien escribe ya no sabra a qué lengua pertenece [‘mi exílio de lengua’, ‘no hablo yo en un idioma   argentino’ – Pizarnik / 'este país é propício à formação de ídolos [...]’ – Ruy BELO, 2002, p. 39] y quien lee se dejará distraer por lo que no entiende. A este fenômeno denso, oscuro, fragmentário, insuficiente pero extrañamente productivo, es al que podemos llamar poesía. Una paradoja que detiene, inmoviliza, da miedo y oscurece mientras va iluminando con su presencia la movilidad de la vida [‘Pasa que la condición de mi cuerpo vivo y moviente es la poesia’ – Pizarnik / ‘Tem de se escrever numa linguagem viva, caso contrário, se não morre, é porque já se nasceu morto.’ – Ruy BELO, 2002, p. 25]. Es que en su condición de puro presente, la poesía está siempre ahí, mientras que la prosa supone una búsqueda utópica de tiempos verbales que se escurren entre los dedos [‘no sé manejarme con los verbos complicados’ – Pizarnik / ‘Vou escrever prosa’ – Ruy Belo, 2002, 41, ouA prosa exige organização, equilíbrio nervoso, exercício diário. Mas agora só penso na prosa. Sabe? Tenho trinta e cinco anos, já posso ser presidente da república.’ [BELO, 2002, p. 37]. [KAMENSZAIN, 2007, p. 66-67]

[...]

http://www.gulbenkian.pt/index.php?object=160&article_id=2713&cal=eventos&langId=1

Um comentário:

  1. este aí é um hombre que vai mesmo no rabo da palavra! abraços, meus queridos. Davi.

    ResponderExcluir