sexta-feira, 16 de julho de 2010

os anomenos,

esses textos e bichos são um muito obrigado e um abraço em cada um dos alunos do meu último semestre como professor na graduação da ufsc. primavera de 2008. eles sabem o tanto. depois tudo aqui é roubo e imprecisão, por isso o abraço é esticado até wilson bueno, o dono dessa conversa toda, a quem dedico a brincadeira com esses anomenos.
[este livrinho já estava na gráfica quando veio a notícia ruim da morte do wilson, amigo precioso. o livro ficou vazio, mas cumpro, porque era uma alegria partilhada. guardo o abraço bom e o sorriso fácil, além do melhor pão francês com queijo e presunto e café com leite no meio de alguma tarde fria de curitiba em sua casa simples e afetiva]

manoel ricardo de lima
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Os oriês
Silenciosos, estes encantadores e diminutos seres, os oriês, são oriundos dos subterrâneos de Tóquio, no mais profundo dos canais. Parecem cumprir a sina da viagem, e se espalham pelo mundo, contaminando as outras espécies de bichos com seus olhos de fenda livre e com suas faces que parecem coisas sem razão, feitas para a escritura no corpo. O pesquisador voraz destes pequeninos animais subterrâneos, o arqueólogo da escrita Bartherolando Autorum, diz que eles têm os olhos dormidos porque são voltados incansavelmente para a miniatura, para o pequeno, para o quase nada. E que sem exigir muito de suas presas, tocam facilmente o vazio de si mesmos. São seres anacrônicos e, por isso, conseguem ir até o extremo de suas individualidades ao esquecerem o próprio nome das ruas onde habitam a si mesmos, por baixo.

Os nadal
Abandonados à própria sorte, como se fossem tocados por uma robusta e desenfreada falta de desejo aos seus mais alentados caprichos, os nadal são bichos melancólicos, mesmo que reluzentes no escuro como os vagalumes, seus parentes próximos, e mesmo que obcecados em doses letais de veneno, papel e tinta, como seus outros parentes, desta vez distantes, os escorpiões. Mas tudo isso não passa daquilo que os nadal mais adoram, e se refestelam em sua adoração como duendes numa orgia perpétua: a crise. Ah, a crise, a doce e saborosa crise da ausência deles mesmos por dentro de seu recheio amarelo como um unto medieval. Mas se vistos de perto, e nem precisa ser tão de perto assim, se descobre no desdobramento de suas barbas que caem até o chão, o seu mais endiabrado sorriso: os nadal riem, riem, riem sem parar. E este é o paradoxo deles, entre a luz e o veneno.

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