A mansarda [1]
A mansarda, refúgio dos homens e de ratos, purifica a gente.
Com mais de 1.600 pecados sou capaz de gritar que sou puro.
Vontade de oferecer flores à prostituta e escutar a
música do cego.
Ouvir a luz que ilumina as garrafas.
Às vezes a gente fica louco como um pesadelo. Os
miolos não saem da cabeça, o corpo fica peso pelos ossos,
e quatro paredes que vêm andando torturam como prisão.
Natal
Os vinténs que não compram nada enforcados no barbante.
Cultivei batatas inglesas no teto com a umidade do in-
verno.
Uma brecha de sol às vezes.
Encontrei minha avó arrodeada de ouro no Marché aux
Puces e a pendurei na parede cor de rosa da mansarda.
Nesse tempo ela estava com seis anos;
Quem pode adivinhar se as escadas sobem para o céu ou
descem para o inferno.
A mansarda [2]
Repouso da grande jornada e descoberta da mansarda
A mansarda, refúgio dos homens e dos ratos, purifica a
gente. Com mais de 1.600 pecados sou capaz de gritar que
sou puro.
Remorso com o mundo e um desejo de ser bom
Vontade de oferecer flores à prostituta e escutar a
música do cego.
Hospitalidade com amor ou sem
Dorme-dorme nenenzinho sem nacionalidade
O poder imaginativo
Na inhaca da mansarda às vezes os pincéis têm cheiro
de flores.
Um estado de pureza que vem vindo
Ouvir a luz que ilumina as garrafas.
A simplicidade
O ovo da quitanda gerado em ilustração para o poema
do amigo.
Concepção de arte
A mansarda pariu um projeto para qualquer coisa no mundo.
da modernidade brasileira. Esses 2 poemas interessantíssimos e quase
desconhecidos fazem parte de um projeto que tem a ver com "dizer
a pintura" e "pintar o dito" ou a queda definitiva no prosaico.
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