Enfim, poder-se-ia ainda objetar com todas as ocasiões onde ninguém se comporta tão inteligentemente como seria necessário, e deduzir que qualquer um de nós se revela, quando não constantemente, pelo menos de tempos em tempos, estúpido. É necessário, por conseguinte, distinguir também entre abdicação e incapacidade, entre estupidez ocasional ou funcional e estupidez constante ou constitucional, entre erro e ininteligência. É mesmo uma das coisas que mais importam, pois as condições de vida atual são tais, formam um conjunto tão vasto, tão complexo, tão caótico, que as estupidezes ocasionais dos indivíduos podem facilmente causar uma estupidez constitucional da comunidade. O observador é assim conduzido, à margem do domínio das disposições pessoais, a conceber uma sociedade afligida por certos defeitos mentais. Está fora de dúvida que não podemos transferir os fenômenos que afetam a psicologia real do indivíduo, e por isso em particular as doenças mentais e a estupidez, para as sociedades; mas dever-se-ia poder falar hoje, sob muitos aspectos, de uma “imitação social das fraquezas mentais”: os exemplos são bem visíveis.
Robert Musil
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