quarta-feira, 27 de maio de 2009

poema,

hacia a casa
por Júlia Studart e
Manoel Ricardo de Lima

1.
Não há nenhuma simetria entre
os galhos de uma árvore, secos
e uma ponte de madeira azul que
morre e que mata nossa idéia
de passagem. Não há nem
mesmo talvez ou quem sabe
simetria entre um pássaro preto e
um par de botas para quebrar a
paisagem. Mesmo que se procure
forçar a barra. Se há, o pássaro preto
tenta dizer um nome. Se há, ele pousa
em silêncio do lado esquerdo da
vida. Ele grita desalinhado com a ponte,
ele tenta dançar

2.
Um rosto nasce dessa condição
horizontal, mas isto ainda
não é uma imagem e pode não
ser uma imagem: how to draw
hands, how to draw hands pode ser
o canto e o sonho do pássaro, o agouro
e o esforço de voar: Xerxes e
Hercule Amoureux. O limite é
sempre o que não há

3.
Não custa lembrar que agouro
é uma erosão, elemento intruso
e grota, mais ou menos por
onde se perde o ódio. Quando o
pássaro avisa aos homens que
os deuses morreram, pela direita.
Que um par de botas finca a planície
levemente. Mas ao dar de cara
com um brâmane você vai achar
que um sacrificador ou uma
bailarina também levantam vôo
para o céu. Um simorgh também
levanta vôo para o céu, fala e cura
e não vê quase nada do alto de qaf
porque some. Um simorgh se
oculta, desaparece

4.
As linhas pretas do par de
botas, a voz errada que sai pela
janela do vizinho. Nada está
seguro. Nada se segura. Há uma
máquina, uma máquina de voar
sem mover um dedo, sem mover os
pés, sem mover as asas. Sem mover
os olhos. Estatelar os olhos. How to
draw hands. Uma linha de chão e um
rastro, nenhum nome a mais. Nada
nada nada a ser dito, mas logo
em seguida outra vez, como crê um
buriata na sibéria, o par de botas
é a alma do outro mundo, pássaro
noturno: e arrasta a ponte

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